A baixa do mercado de Venture Capital vem afetando empresas de tecnologia de todo o mundo. A situação está relacionada a fatores como retração da economia, aumento das taxas de juros para conter a inflação e a preferência dos investidores por ativos que ofereçam menor risco.
Um relatório global da CBInsights mostra que os investimentos de risco em startups totalizaram US$ 108,5 bilhões no segundo trimestre de 2022. Isso representa uma desaceleração de 23% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Esse cenário já era esperado por investidores que estão há mais tempo na estrada. Afinal, era impossível manter o ritmo anterior de crescimento por muito mais tempo. O desafio das startups agora é se preparar para as mudanças do mercado e enfrentar os desafios impostos por essa nova realidade.
Para debater as perspectivas do mercado de Venture Capital, a Triven realizou recentemente um Meetup com Clientes. O encontro contou com a presença de Fernando Trota, fundador e CEO da Triven; Rodolfo Pinotti, Cofundador da Triven e CEO do Kapture; e Marcos Muller, CEO da Darwin Startups.
Neste texto, você vai conferir alguns insights valiosos sobre essa conversa, além de dicas de como a sua empresa pode se adaptar ao novo cenário do Venture Capital.
“É a evolução natural do ecossistema. É como se fosse a volta às origens do Venture Capital.”
Fernando Trota, Cofundador e CEO da Triven
A essência do mercado de inovação sempre esteve vinculada a um propósito de mudar o mundo e a forma como as pessoas se relacionam com o consumo de determinados produtos, buscar a disrupção. E a premissa sempre foi de investir nessas grandes iniciativas de inovação.
Nos últimos anos, o que tem se visto é que muitos investidores e empreendedores foram atraídos apenas pelo aspecto financeiro. O resultado foi a criação de soluções pouco inovadoras.
As mudanças no mercado de Venture Capital vão trazer uma espécie de seleção natural dos empreendedores e um pouco da volta às origens do ecossistema de startups.
“O que muitos founders esquecem é que uma rodada de Venture Capital é a soma de valuation com seus respectivos termos”
Marcos Mueller, CEO da Darwin Startups
As mudanças no mercado de Venture Capital evidenciam que founders e gestores precisam estar atentos não somente ao valuation, mas também aos termos estabelecidos durante a rodada de investimento.
É preciso fechar negócios com termos que sejam interessantes para a startup. O founder deve evitar situações de liquidation preference com múltiplos atrelados, com travas e vetos – termos podem prejudicar a empresa no futuro.
“A eficiência no uso do dinheiro voltou a ser importante”
Rodolfo Pinotti, Cofundador da Triven e CEO do Kapture
O contexto mudou e as empresas precisam reagir. Antes, o cenário era de disponibilidade de caixa, rodadas altas e pressão por velocidade. Existia uma racionalidade de que era melhor crescer rápido, sem ter um olhar atento para as finanças.
As novas percepções no mercado de Venture Capital trouxeram a necessidade de dar um passo atrás e resetar múltiplos e posições. De maneira prática: o mesmo dinheiro precisa render muito mais.
E aqui entramos no conceito de Burn Multiple, para repensar como é possível ter maior eficiência do capital. Se antes a empresa gastava um X de reais para trazer um novo dólar, agora é preciso reduzir em X% e manter a capacidade de trazer esse mesmo dólar.
Ou seja, as mudanças mostram a necessidade de calcular e entender o real uso do recurso para fins de crescimento da startup.
“Projeto bom sempre vai ter dinheiro.”
Marcos Mueller, CEO da Darwin Startups
Ainda há muitos recursos para serem investidos. Esse movimento de mudança do Venture Capital é saudável, passando por reajustes naturais pós-pandemia.
O que não muda é que, quando um investidor quer realizar um investimento em uma empresa de tecnologia – não importa o mercado e o tamanho – ele vai investir. Ou seja, para startups focadas em criar valor e resolver as dores do mercado, sempre haverá investimento.
O sonho de todo empreendedor era transformar seu negócio em um unicórnio. O novo mantra agora é ser “centauro”, como são conhecidas as startups com faturamento anual na casa das centenas de milhões de dólares. O mantra para definir negócios de sucesso também mudou: “the flat is the new up”, ou seja, manter o faturamento já está bom demais.
E o que fazer daqui para a frente? Seguir em frente e ir com tudo remar junto com a maré? Diante desse novo cenário, a ideia é nem uma coisa nem outra. A ideia agora é olhar cada projeto e dar cada passo com o conceito de “custo produtivo”: gastar recursos somente naquilo que gera receita a curto e médio prazo; priorizar iniciativas de acordo com esse critério.
Mesmo com os investimentos mais escassos, existe momentos e projetos que valem a pena ir em frente sem a necessidade de se gerar um unicórnio da noite para o dia ou fazer IPO a qualquer custo.
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