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Os investimentos em startups cresceram de forma bem expressiva durante a pandemia, favorecidos pelas taxas de juros baixas. No entanto, esse cenário registrou um recuo no último ano, causado pela retração na economia, aumento nos juros para segurar a inflação e a guerra na Ucrânia. Esses fatores deixaram os investidores menos otimistas em 2022, fazendo com que muitos deles tenham preferência por ativos de menor risco.

As mudanças no mercado de Venture Capital evidenciam que founders e gestores precisam estar atentos não somente ao valuation, mas também ao uso eficiente do dinheiro que precisa render mais. Antes a visão predominante era o crescimento rápido sem ter um olhar atento às finanças, mas hoje é preciso crescer de forma saudável.

Essa nova realidade tem atingido diversas empresas de tecnologia no mundo todo e, ao mesmo tempo, mudado a visão dos empreendedores, que antes sonhavam em se tornar startup unicórnio e agora preferem ser startup centauro.

Neste artigo, vamos falar um pouco mais sobre essa tendência e explicar por que ela representa o futuro do venture capital. Confira e boa leitura!

Cenário do Venture Capital

De acordo com um relatório divulgado pela CB Insights, os investimentos de risco na América Latina caíram 52% no 3º trimestre de 2022, quando as empresas receberam cerca de 1 bilhão de dólares – bem menos do que os 2,3 bilhões arrecadados no trimestre anterior. Segundo o estudo, esse já é o quinto trimestre consecutivo que o venture capital apresenta queda na região.

Entre os principais motivos dessa retração estão a alta da inflação e o risco de recessão que tem atingido diversos países, agravados ainda mais pelo aumento nos preços do petróleo e de outras commodities por conta da guerra na Ucrânia. Com preferência em ativos de menor risco, os investidores estão mais criteriosos e seletivos na hora de investir, o que faz com que ativos de liquidez mais rápida como uma startup centauro sejam mais interessantes.

Esse cenário também se repete no Brasil, onde os investimentos no primeiro trimestre de 2022 caíram 44%, conforme levantamento feito pela plataforma Distrito. Essa queda se concentrou nas empresas que já estavam em estágio avançado de crescimento, afetando principalmente as startups centauro, que agora precisam se adaptar à nova realidade.

Startup “centauro”: novo mantra das startups

No universo das startups muito se fala em unicórnio que, embora na mitologia representa um animal engraçado e fofo, no mercado se trata de empresas jovens e modernas que valem mais de 1 bilhão de dólares. O sonho de todo empreendedor era transformar seu negócio em um unicórnio, mas agora é ser “centauro”, que são as empresas avaliadas em mais de 100 milhões de dólares.

Hoje, o mercado de tecnologia tem valorizado mais as startups centauros do que as unicórnios. Isso porque o venture capital em si ainda é muito novo no Brasil e não atingiu o amadurecimento suficiente para garantir que ativos de US$ 1 bilhão sejam negociados com tanta facilidade quanto uma empresa que vale US$ 100 milhões, o que torna a liquidez muito maior.

Como os investidores e empreendedores querem ter seus retornos com mais agilidade, com um produto ou serviço que seja economicamente viável, o mercado de compradores para uma startup centauro é muito maior. A tendência é que essa visão amadureça, agora que a resolução CVM 88 tornou possível que plataformas façam a intermediação de transações secundárias e que os investidores possam mostrar suas intenções de compra e vendas por meio delas.

Quais os desafios da startup centauro?

De modo geral, uma startup centauro sempre teve que lidar com desafios que já fazem parte de seu próprio contexto, como o alto nível de incertezas, os recursos limitados, a necessidade de validar produto, mercado e canais e a escalabilidade do negócio. Porém a retração nos investimento de risco tornaram esse cenário ainda mais desafiador para elas.

Como os investidores estão mais seletivos e criteriosos, priorizando retornos mais rápidos dos seus aportes, o founder de uma startup centauro precisa entregar resultados de forma muito mais rápida, já que o exit passa a ser considerado uma opção, tendo como base aquele velho ditado de que mais vale um pássaro na mão do que dois voando.

Portanto, nos dias atuais, uma startup centauro precisa implementar estratégias para assegurar seus investimentos já angariados e conseguir atrair novos recursos. Isso é feito a partir de projeções que sejam mais consistentes e métricas mais realistas nos reports, além de também transmitir mais convicção na sua capacidade de gerar resultados aos investidores.

Os empreendedores precisam ter premissas e fundamentos mais sólidos, o que requer um exercício mais intenso de business model review para estressar todas as hipóteses, e entender o potencial econômico do negócio. Com esse exercício é possível desenhar um Operating Plan mais fundamentado. Ou seja, traduzir as premissas em modelagem financeira e cenários com seus respectivos outputs: valuation, curva de crescimento, curva de caixa, resultado etc..

Conclusão

Como vimos, os investimentos caíram no mercado de venture capital pós-pandemia, reflexo de vários fatores que têm levado os investidores a serem mais criteriosos e seletivos, além de preferirem ativos de liquidez mais rápida.

Nesse cenário, a startup centauro é uma posição que os empreendedores desejam mais do que se tornar unicórnios. Afinal, o mercado ainda está em processo de amadurecimento e a facilidade de transações pode ser muito maior.

No entanto, uma startup centauro já tem vários desafios que fazem parte do seu contexto. Por conta disso, a empresa precisa se planejar e adotar estratégias importantes para entregar resultados mais rápidos, como o finance hacking. Antes, a ideia era crescer rápido sem olhar atentamente para as finanças, mas hoje é preciso fazer o dinheiro render mais.

Além disso, para driblar todos os desafios do venture capital, que ainda é algo muito novo no Brasil, os founders também precisam se organizar para fornecer informações cada vez mais consistentes e realistas, que transmitam confiança e credibilidade aos investidores.

Leia também: CEO da Triven fala sobre as tendências e novos produtos de gestão financeira para startups

 

Crédito da imagem: Imagem de tirachardz no Freepik

Fernando Trota

Fernando é cofundador e CEO da Triven. É responsável pelas iniciativas de CFO as a Service, Advisory e People as a Service integrando gestão financeira, melhores práticas e gestão com foco em startups.